‘Não existe liberdade sindical no Brasil’, diz advogado sobre risco de volta da contribuição

Para Antonio Galvão Peres, doutor em Direito do Trabalho pela USP, volta da cobrança seria um “absurdo” porque o trabalhador não pode definir a entidade à qual gostaria de se filiar

Para Antonio Galvão Peres, advogado trabalhista e doutor em Direito do Trabalho pela USP, o risco de volta da contribuição assistencial aos sindicatos nos termos discutidos atualmente no Supremo Tribunal Federal (STF) é preocupante. O especialista avalia que o país não tem liberdade sindical, à medida que o trabalhador não pode definir a entidade à qual gostaria de se filiar. O fim da contribuição faz parte das medidas da Reforma Trabalhista, aprovada em 2017. Para o advogado, caso o STF abra espaço para a volta da cobrança, isso representaria “um absurdo”.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu vista neste sábado no julgamento que pode voltar com a contribuição assistencial obrigatória por parte de trabalhadores não sindicalizados. Com isso, a Corte ganha tempo para fazer uma análise mais aprofundada sobre o tema, no que tem sido considerado por especialistas um retrocesso em um dos pontos da Reforma Trabalhista, aprovada em 2017 no governo Michel Temer.

Moraes interrompeu o julgamento com o placar em 3 a 0 a favor da volta da cobrança. Ainda faltam os votos de sete ministros. Com o pedido de vista, Moraes tem até 90 dias para devolver o caso ao plenário do Supremo, mas uma nova data ainda precisará ser definida pela presidente da Corte, ministra Rosa Weber.

A contribuição assistencial é um tipo de taxa utilizada para custear as atividades do sindicato. Diferentemente do imposto sindical, ela é estabelecida em assembleia de cada categoria e não tem valor fixo. Pelo voto de Barroso, caberia ao trabalhador dizer ao sindicato que não quer a cobrança. Veja a seguir a entrevista:

Na sua avaliação, os trabalhadores deveriam voltar a recolher de forma compulsória para os sindicatos?
Com o sistema atual, não.

Por quê?
No Brasil, não existe liberdade sindical. Ou seja, os trabalhadores não podem escolher a entidade pela qual gostariam de ser representados. Não se trata apenas de negociação coletiva, as entidades têm militância política e de costumes, como religião, por exemplo.

Seria um absurdo. Primeiro, é preciso fazer uma reforma sindical, estimular a concorrência, dar liberdade para que os trabalhadores possam escolher livremente a quem se filiar.

Como funciona em outros países?
De acordo com o padrão mundial, a contribuição sindical somente pode ser descontada de quem é associado e, além disso, há liberdade sindical. Na Argentina, por exemplo, é possível descontar de não filiado, mas o valor é limitado a 50% do valor cobrado de quem é sócio. Nos EUA, é permitido o desconto somente no setor privado.

O fim do imposto compulsório não prejudica a sobrevivência dos sindicatos?
Mesmo com o fim do imposto, os sindicatos representativos permaneceram fortes porque são atuantes, defendem de fato os interesses dos trabalhadores, que, em contrapartida, recolhem a contribuição de forma espontânea.

Publicado em O Globo

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